Particularidades na alimentação da criança vegetariana
Algumas orientações para mães com crianças
vegetarianas pequenas, especialmente nos dois primeiros anos de vida:
1) A criança vegetariana, como qualquer criança,
deve ser acompanhada para avaliação do crescimento, ganho de peso e
desenvolvimento.
Se o seu pediatra é contra a dieta vegetariana,
saiba que existem outros que são plenamente favoráveis a essa opção. A junção
do pediatra com um nutricionista que prescreva a dieta vegetariana é uma opção
bastante segura.
Não há motivos para preocupação quando a dieta da
criança é planejada. Crianças podem seguir uma dieta vegetariana, inclusive
vegana.
2) A amamentação exclusiva pelo menos até os 6
meses de idade é fundamental. Nesse período deve haver atenção especial ao
nível de vitamina B12 no sangue da mãe e à dieta para garantir a oferta de B12
no leite materno.
Caso a mãe não tenha um bom nível sangüíneo e/ou
uma boa ingestão da vitamina B12 ou por algum motivo não queira ou não possa
utilizar suplementos dessa vitamina, ela deve ser ofertada diretamente ao bebê
(existem xaropes no mercado com vitamina B12, desenhada para bebês e crianças).
Crianças veganas devem receber alimentos
enriquecidos ou suplementos na forma de comprimidos ou xaropes.
Crianças ovo-lacto-vegetarianas ou
lacto-vegetarianas podem não precisar de suplemento de B12, mas convém, além de
quantificar a B12 ingerida, dosar os níveis sanguíneos de marcadores de
deficiência dessa vitamina.
Durante toda a fase de introdução de alimentos,
assim como na infância, deve-se avaliar a vitamina B12, mantendo-se a
suplementação.
Avaliação por meio de exames laboratoriais é
importante para o bebê quando faltam dados clínicos ou laboratoriais referentes
à mãe!
Não deixe de fazer os exames só porque utiliza o
suplemento.
3) Nunca, jamais, em hipótese alguma, substitua o
leite materno ou as fórmulas lácteas especializadas por sucos vegetais ou
farinha de cereais ou feijões.
O leite materno é uma alimento especialmente
"desenhado" para o bebê.
Na impossibilidade de utilização do leite materno,
há diversas fórmulas no mercado feitas especialmente para sua substituição. São
elas que devem ser utilizadas e nunca misturas improvisadas. As fórmulas
específicas têm composição definida de nutrientes (em termos quantitativos e
qualitativos). O nutricionista deve
indicar o seu uso quando necessário.
Há fórmulas que se adequam para crianças veganas.
4) A suplementação de ferro para crianças
vegetarianas segue a mesma orientação preconizada para as não vegetarianas.
A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que
toda criança (exceto as nascidas na hora certa e que usam fórmulas infantis)
dos 6 meses aos 2 anos de idade receba suplementação de ferro, devido ao
elevado índice de anemia nessa faixa etária.
Crianças prematuras devem iniciar a suplementação
mais precocemente.
A verificação por meio de exames laboratoriais pode
ter importância. Deve ser avaliada não apenas os níveis de hemoglobina, mas
também de ferritina.
Não é incomum encontrarmos crianças em uso de
suplementação que, ao completar 2 anos de idade, ainda precisam manter o uso do
suplemento.
5) Ofereça alimentos ricos em zinco (cereais
integrais e feijões) utilizando os métodos de redução do ácido fítico dos grãos.
Deficiência de zinco pode ocasionar redução da
velocidade de crescimento, diarréia e infecções em crianças.
Deixe os grãos de molho em água por 8 a 12 horas antes de
cozinhá-los. Isso reduz o teor de ácido fítico (elemento que reduz a absorção
de ferro, cálcio e zinco).
6) A suplementação de vitamina D para crianças
vegetarianas segue as mesmas recomendações preconizadas para crianças não
vegetarianas.
Apesar da exposição aos raios solares ser uma forma
de adequação da vitamina D, nem sempre seus níveis sanguíneos estão adequados.
Sugiro sempre dosar os níveis sangüíneos dessa
vitamina quando forem feitos exames de sangue na criança.
7) Principalmente para as crianças veganas deve-se
ficar atento à oferta calórica adequada. A necessidade protéica costuma ser
ultrapassada quando a necessidade calórica é atingida com alimentos adequados.
Lembre-se de que a base da dieta vegetariana não
são as verduras e legumes, mas sim os cereais e leguminosas (feijões). Tendo
esses alimentos como base, fica fácil a adequação calórica e protéica da
criança.
8) Deve-se enfatizar o uso de alimentos mais
calóricos de boa qualidade, baseados em grãos: derivados da soja (como tofu),
cereais, oleaginosas e sementes (gergelim, girassol...), azeite, óleo de linhaça.
Enfatizar o uso do abacate.
Esses alimentos podem, facilmente, ser utilizados
na forma de “papinhas”.
Caso os grupos alimentares não estejam misturados
(ex: sopa ou purê) procure não oferecer as verduras e legumes em grandes
quantidades antes dos outros alimentos, pois podem causar sensação precoce de
saciedade.
A fibra dos alimentos promove uma maior saciedade.
Apesar do uso de grãos integrais (trigo, centeio, aveia, cevada...) ser muito
saudável, se houver necessidade de incrementar a ingestão calórica, convém
utilizar os seus derivados, como pães, macarrões e seus flocos e farinhas.
Não restrinja a gordura de boa qualidade da dieta
da criança com menos de 2 anos de idade!!
Utilize alimentos ricos em gorduras do tipo
ômega-3. O óleo de linhaça deve ser enfatizado. Outros óleos (canola, soja –
prensados a frio de preferência) e oleaginosas contém boas quantidades de
ômega-3, mas a linhaça é a fonte mais rica.
9) Se precisar adoçar algum alimento procure
utilizar melado de cana no lugar do mel ou do açúcar refinado.
Não utilize o mel até o final do primeiro ano de
vida.
10) Exames de laboratório periódicos são muito bem
vindos.
A idade que os exames devem ser solicitados
dependem de cada caso.
Dr. Eric Slywitch
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